O complexo de Diaporthe é uma doença que causa lesões na haste da soja. Inicialmente conhecida como Phomopsis, já está presente no sistema de produção da cultura há vários anos e, nos últimos tempos, tem despertado atenção especial devido ao aumento dos casos com sintomas mais evidentes.
Relatos de plantas com lesões nas hastes e até mesmo quebramento surgiram há cerca de cinco anos, na região de atuação da Cotrijal. Na época, foram levantadas algumas hipóteses. como danos causados por percevejos ou por fatores como temperaturas elevadas no solo.
“Naquele período, trabalhava-se com cultivares mais tolerantes a algumas doenças. Hoje, vemos uma grande evolução voltada à produtividade, o que traz mais rentabilidade ao produtor. Porém, esse aumento de produtividade também pode tornar as cultivares mais sensíveis a doenças. Isso não se aplica apenas à soja, mas também a híbridos de milho, trigo e cevada. Quanto mais produtivo o material, mais sensível ele tende a ser para doenças”, explica o agrônomo e coordenador Técnico da Cotrijal, Alexandre Nowicki.
Pesquisa
Nos últimos dois anos, as lesões começaram a chamar mais atenção e no ano passado, o Departamento Técnico da Cotrijal realizou mais de 100 coletas na região, de plantas com sintomas da doença. Foram feitas análises laboratoriais e análise molecular, com extração de DNA das plantas afetadas, que confirmaram presença do patógeno Diaporthe.
Estudos apontam que nos Estados Unidos existem mais de 10 espécies de Diaporthe que podem causar diferentes sintomas na soja. No Brasil, já foram registradas cinco espécies e na região de atuação da Cotrijal foram identificadas três espécies.
Efeitos na soja
A doença tem grande potencial de impacto nas lavouras, podendo reduzir a produtividade de grãos. As lesões observadas no colmo da planta, localizadas geralmente de três a cinco centímetros acima do nível do solo, podem comprometer a condução de água e nutrientes, resultando na redução do peso dos grãos. Além disso, em anos com excesso de chuva durante o período de enchimento de grãos, pode ocorrer o apodrecimento dos grãos na vagem.
Os sintomas da doença incluem:

Manchas foliares: As folhas da soja apresentam pequenas manchas arredondadas ou ovais, com bordas escuras e centros de cor amarelada ou marrom. Em estágios mais avançados, as manchas podem se fundir, afetando grandes áreas da folha.
Podridão das sementes e vagens: O fungo pode também afetar as sementes, causando a podridão das vagens e dos grãos. As sementes infectadas tornam-se descoloridas e podem se tornar inviáveis para germinação.
Murcha e morte das plantas: Em estágios mais graves, o fungo pode atacar o caule da planta, levando ao colapso da estrutura e à morte precoce da planta.
Geralmente a doença se expressa em anos com condições de estresse nas plantas, como altas e baixas temperaturas, ou falta de umidade. O fungo responsável pelo Diaporthe pode permanecer no solo por mais de cinco anos e infecta as plantas ainda jovens, logo após a emergência, durante a fase vegetativa (V2, V3). Com o respingo da chuva, por exemplo, ele infecta a folha e permanece endofítico, ou seja, dentro da planta, e se manifesta apenas quando ela passa por um período de estresse.
A presença da doença já é observada em alguns pontos da área de atuação da Cotrijal. Embora sua incidência ainda não seja muito expressiva, estima-se que entre 15% e 20% da área já apresente plantas com sintomas em diferentes cultivares – lembrando que a maioria das cultivares é sensível ao complexo de Diaporthe.
Práticas integradas
Para reduzir os danos dessa doença é fundamental que o agricultor adote práticas integradas de manejo, que envolvam a rotação de culturas, o uso de palhada, biológicos, tratamento de sementes e complemento com aplicação de fungicidas.
Confira algumas estratégias:
- Uso de sementes certificadas e tratadas: A utilização de sementes livres de patógenos e tratamento de sementes com fungicidas pode reduzir a disseminação do fungo logo no início do ciclo da soja.
- Rotação de culturas: A rotação de culturas pode diminuir a carga de esporos no solo e reduzir a pressão da doença.
- Controle químico: Fungicidas específicos podem ser aplicados no manejo da doença, principalmente em casos de surtos severos. No entanto, o uso excessivo de produtos químicos deve ser evitado para não comprometer o meio ambiente e o controle integrado de pragas.
- Resistência genética: O desenvolvimento e a utilização de variedades de soja resistentes ao fungo Diaporthe pode ser uma estratégia de manejo a longo prazo. No entanto, a resistência genética ainda está sendo aprimorada, e o uso de variedades resistentes deve ser combinado com outras práticas culturais.
- Monitoramento constante: A vigilância contínua nas lavouras para identificar a doença precocemente permite a adoção de medidas de controle rápidas e eficientes.
O trabalho conjunto entre o Departamento Técnico e os produtores é essencial para a identificação precoce e o manejo adequado. Ao se deparar com algum sintoma, é importante que o produtor entre em contato com o Departamento Técnico para confirmar o diagnóstico, já que a doença pode ser confundida com outros problemas relacionados ao solo.