Para que possam ser consumidos, os alimentos precisam atender diferentes critérios de qualidade. E com o leite não é diferente. Para ele chegar às nossas mesas, os cuidados iniciam já nas fazendas, com manejos como higiene na ordenha, limpeza de equipamentos e controle de doenças. Esses cuidados com a chamada “qualidade do leite” são benéficos não apenas para os consumidores. Eles fazem toda a diferença na produtividade e rentabilidade das propriedades.
“Qualidade na prática significa que o leite atende aos critérios de higiene, composição e segurança alimentar. Um leite de qualidade deve estar livre de resíduos de antibióticos, com baixa contagem de CCS e CPP, além de possuir composição equilibrada de gordura, proteínas e lactose, garantindo um produto seguro para o consumo”, explica a médica veterinária Thais Endrigo, responsável pela área de Qualidade do Leite na Cotrijal.
A legislação brasileira, por meio das Instruções Normativas 76 e 77, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), regula a produção, transporte e comercialização, estabelecendo limites de qualidade para o leite como índices de Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem Padrão em Placas (CPP), citadas acima. A CCS baixa indica que a glândula mamária está saudável e que a vaca está produzindo leite de boa qualidade, enquanto a CPP indica a qualidade microbiológica do leite, sendo que altos valores podem indicar problemas de higiene na ordenha, na limpeza dos equipamentos ou resfriadores com problemas.
Segundo a Embrapa, a qualidade higiênica do leite é influenciada pelo estado sanitário do rebanho, pelo manejo dos animais e dos equipamentos durante a ordenha, pela presença de microrganismos, por resíduos de medicamentos e por alterações no sabor e odor do leite.
QUANTO MENOR, MELHOR!
Baixos índices de CCS e CPP indicam saúde dos animais e qualidade do leite.
“A qualidade do leite está ligada diretamente à saúde das vacas. Animais saudáveis (com CCS menor que 200 mil) produzem mais leite e de melhor qualidade quando comparado a vacas com mastite subclínica (CCS acima de 200 mil). Investir em boas práticas na rotina de ordenha, nutrição, reprodução e manejo sanitário resultam em menos doenças como a mastite e maior produção diária dos animais”, destaca Thais.
A mastite é uma inflamação da glândula mamaria, podendo estar seguida ou não de um processo infeccioso, geralmente causado por bactérias, sendo a principal responsável pelo aumento da Contagem de Células Somáticas (CCS) nos rebanhos leiteiros. É considerada a doença mais relevante na pecuária leiteira em todo o mundo, em função da sua alta incidência e pelos prejuízos econômicos que causa.
A principal forma de controlar essa doença é a adoção de boas práticas, que incluem principalmente o ambiente onde as vacas permanecem. Segundo Thais Endrigo, “independentemente do sistema, é necessário ter um ambiente limpo. O produtor deve adotar manejos adequados para que as vacas tenham o mínimo contato com o barro, fezes e esterco. Esse contato sempre vai existir, mas precisa ser minimizado através das medidas diárias dentro da propriedade”.
Além disso, a mastite também pode ser controlada com uma rotina de ordenha adequada, incluindo práticas como aplicação de pré e pós-dipping (higienização dos tetos antes da ordenha e desinfecção dos tetos após a ordenha), bem como, atenção aos padrões de estímulo e tempo necessário para uma ordenha eficiente.
Outro ponto essencial é a manutenção regular dos equipamentos de ordenha. A indicação é que a revisão de itens como pulsadores ocorra, no mínimo, a cada seis meses. Em aproximadamente 80 fazendas atendidas pela área de Qualidade do Leite da Cotrijal, ao iniciar o acompanhamento técnico, foi identificado que mais de 70% das ordenhadeiras apresentavam algum tipo de problema, reforçando a importância do cuidado constante com os equipamentos.
O gerente de Serviço Técnico do Laboratório Hipra, Ciro Cerqueira, explica que ter o equipamento de ordenha bem ajustado e revisado é essencial para garantir a ordenhabilidade, ou seja, a retirada completa do leite de forma rápida e confortável para a vaca. Com o avanço genético dos rebanhos, as vacas passaram a produzir mais leite e com maior velocidade de fluxo, exigindo que o sistema de ordenha esteja adaptado a essas mudanças. “O fluxo de leite varia e torna cada rebanho individual, exigindo a realização de revisões dinâmicas (com as vacas em ordenha). Por isso, parâmetros como vácuo, pulsação e o tipo de teteiras devem ser ajustados de acordo com o perfil específico de cada rebanho”, explica.

Um sistema de ordenha mal ajustado pode deixar resíduos de leite (o que favorece o crescimento de bactérias) e também machucar os tetos das vacas, aumentando os casos de mastite. “Precisamos reeducar o setor, envolvendo produtores e técnicos, e os conceitos básicos da ordenha. É necessário reconhecer sinais claros: vacas que resistem a entrar na sala de ordenha, que se movimentam excessivamente durante a ordenha (sapateiam), ou que presentam tetos com anéis ou coloração roxa são demonstrações de desconforto e problemas no manejo ou no equipamento de ordenha”, ressalta Cerqueira.
O fluxo de leite varia e torna cada rebanho individual, exigindo a realização de revisões dinâmicas. Por isso, parâmetros como vácuo, pulsação e o tipo de teteiras devem ser ajustados de acordo com o perfil específico de cada rebanho.”
Ciro Cerqueira
Gerente de Serviço Técnico do Laboratório Hipra

Médica veterinária Taiani Gayer e a associada Jodiane Borghardt realizam a avaliação e ajuste dos equipamentos de ordenha | Foto: André Borghardt
Parceria para melhores resultados
A Cotrijal tem uma área específica que presta apoio aos associados com o objetivo de promover a melhoria contínua da qualidade do leite, apoiando os produtores na adoção de boas práticas e no cumprimento das normativas. As principais frentes de trabalho dessa área incluem assistência técnica, com visitas mensais ou quinzenais em que a equipe da Cotrijal acompanha a ordenha e capacita os produtores a aplicarem as boas práticas na rotina. Também é realizado o acompanhamento de indicadores de qualidade e implementação de protocolos de tratamento de acordo com o perfil bacteriano da fazenda. Entre as principais práticas orientadas estão higiene no manejo, cuidados com equipamentos e refrigeração e controle da mastite. Atualmente, o setor atende cerca de 80 produtores,
entre eles a Agro Borghardt, dos associados Jodiane e André, e a propriedade do associado Eduardo Bach.

“Alguns anos atrás, tínhamos a CCS alta, acima de 400, 500 mil, agora está abaixo de 150 mil. Esse resultado atingimos depois de um longo período de trabalho em conjunto: técnico e produtor”, ressalta a associada Jodiane, explicando que o suporte técnico tem apoiado na saúde animal, redução de mastite, menor descarte de leite e de animais, bem como, na redução do uso e dos custos com medicamentos. Tudo isso influencia diretamente na produtividade dos animais e na lucratividade da propriedade.
Entre as boas práticas realizadas na fazenda, ela destaca o uso de luvas, aplicação de pré e pós-dipping, uso de papel toalha, utilização de água quente e produtos indicados para limpeza e desinfecção dos equipamentos,acompanhamento na ordenha para avaliação das boas práticas executadas, avaliação e ajuste dos equipamentos de ordenha e ajuste de dieta. Atualmente a propriedade conta com mais de 80% dos animais sadios, ou seja, com CCS abaixo dos 200 mil.
No início, em 2007, a propriedade contava com quatro vacas em lactação. Com investimentos em reprodução, manejos, equipamentos e estruturas, a atividade foi se desenvolvendo. “Trabalhamos sempre focados e com os pés no chão, sabendo onde queríamos chegar: ter animais produtivos e saudáveis, silagem e pastagem em quantidade e com qualidade e bezerras bem criadas, pois elas são o futuro da propriedade”, explica Jodiane.
Atualmente, a Agro Borghardt tem 28 vacas em lactação, com média de produção de 35 litros de leite por vaca/dia, totalizando 1 mil litros diariamente. “Desde o princípio, buscamos adquirir conhecimento através de cursos, palestras, tardes de campo ou outros meios de aprendizagem que nos eram ofertados, pois sabíamos que o conhecimento ia nos ajudar evoluir na atividade”.
Existem dois tipos de mastite:
Mastite subclínica
É a forma mais silenciosa da doença. Não há sinais visíveis de inflamação no úbere nem alterações no leite. Porém, a inflamação está presente e pode ser detectada através de exames aboratoriais, como a medição da CCS. Neste caso não há necessidade de descarte do leite.
Mastite clínica
É a forma visível da doença. Os sintomas podem incluir alterações no leite como presença de grumos, pus ou sangue, além de inchaço, vermelhidão e dor no úbere. Nesses casos, é necessário realizar o tratamento adequado e o leite da vaca doente deve ser descartado durante o período de recuperação.
No Brasil, por exemplo, muitos laticínios e indústrias adotam sistemas de bonificação ou penalização baseados nos níveis de CCS, o que pode representar centavos a mais por litro de leite entregue.
Conheça o seu rebanho

Médica veterinária Thais Endrigo e o associado Eduardo Bach durante visita para acompanhamento e orientação | Foto: Raíza Goi Borba | Cotrijal
O diagnóstico do rebanho é uma das etapas essenciais para garantir a qualidade do leite, funcionando como um verdadeiro raio-X da propriedade. Uma das principais ferramentas utilizadas nesse processo é o controle leiteiro, realizado mensalmente. Nele, são coletadas amostras individuais de leite de cada vaca, que são enviadas a laboratórios oficiais da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite (RBQL). Lá, são feitas análises que identificam os padrões químicos do leite, como gordura, proteína, CCS e lactose. Com base nesses resultados, o produtor, em parceria com o seu técnico, consegue definir as ações e tratamentos necessários, especialmente para os animais que apresentarem contagem de células somáticas (CCS) acima de 200 mil no mês.
“Com a adesão ao programa da Cotrijal, iniciamos com o controle leiteiro, uma ferramenta que até então não conhecíamos. Através dele, conseguimos conhecer melhor quais as vacas que possuem necessidade de um tratamento diferente por conta da existência de alguma bactéria. E, além disso, aderimos a algumas melhorias nas boas práticas dentro da rotina de ordenha, como por exemplo a aplicação de pré-dipping, uma prática que até então não fazíamos da forma mais adequada”, explica o associado Eduardo Bach. Após isso, a propriedade passou a apresentar redução de CCS e, atualmente, também possui 80% do rebanho sadio.
Eduardo é um exemplo de sucessão rural e está contribuindo para a modernização da propriedade da família. Recentemente, foi implementada na fazenda uma nova estrutura de free stall, visando mais conforto e bem-estar aos animais e também melhores condições de trabalho.
Formado em Medicina Veterinária, Eduardo decidiu permanecer na atividade rural após avaliar o mercado e conversar com profissionais da área. “Olhando o cenário e com o incentivo de colegas, resolvi continuar aqui. Investimos na propriedade, estamos conduzindo bem os trabalhos e conseguindo aumentar a produção”, conta. Atualmente, são 33 vacas em lactação e o objetivo é ampliar o rebanho com as novilhas que estão em recria.
Através do controle leiteiro, sabemos quais as vacas que possuem necessidade de um tratamento diferente por conta da existência de alguma bactéria.”
Eduardo Bach
Associado da Cotrijal
Invista em boas práticas
Higiene na ordenha:
- utilizando luvas, desinfete os tetos das vacas antes (pré-dipping) e após a ordenha (pós-dipping). Não esqueça de usar produtos de marcas confiáveis.
Controle de mastite:
- identifique e trate animais com mastite clínica rapidamente, para que o leite dessas vacas não seja vendido.
Limpeza da ordenha, tanques de resfriamento e utensílios em geral:
- sempre lave e sanitize equipamentos de ordenha, tanques de refrigeração e utensílios de uso geral após a ordenha.
Refrigeração adequada:
- mantenha o leite refrigerado logo após a ordenha para evitar o crescimento de bactérias.
Identificação visual das vacas com antibiótico:
- essa marcação serve como um lembrete visual para os ordenhadores, indicando quais animais estão em tratamento e precisam ter o leite descartado durante o período de carência.
Por que falamos tanto em rentabilidade?
Mastite é uma das principais doenças que afetam as vacas leiteiras e a que mais causa impacto econômico nas propriedades. As perdas ocorrem por conta da redução na produção, descarte de leite, gastos com medicamentos e com serviços veterinários e, em alguns casos, até a morte do animal. No gráfico abaixo, é possível comparar a produção de leite entre vacas sadias e doentes em um dos rebanhos atendidos pela Cotrijal.
De acordo com a Embrapa, a redução na produção de leite é considerada o fator mais relevante das perdas econômicas da mastite. Estudos realizados no Brasil mostraram que animais com mastite
subclínica produziram em média 25 a 42% menos leite do que as vacas sadias.

Neste rabanho por exemplo, o impacto financeiro mensal causado pela redução da produtividade das vacas doentes chegou a cerca de R$ 65 mil em março de 2025. De agosto de 2024 até junho de 2025, as
perdas econômicas somaram mais de R$ 280 mil.
Segundo Thais Endrigo, o assunto vem ganhando cada vez mais espaço e relevância dentro das fazendas, tendo em vista o impacto financeiro direto. “Nossos mais de 80 produtores inseridos no programa vêm
demostrando ano a ano excelentes evoluções dentro de suas fazendas e isso incentiva cada vez mais o nosso trabalho”, reforça a profissional. Todo esse suporte aos associados é realizado em conjunto com
a equipe do Departamento Veterinário (Devet) da cooperativa, que atua como ponte entre os produtores rurais e a área de Qualidade do Leite.
Ficou interessado na iniciativa?
Para acessar este suporte em qualidade do leite oferecido pela Cotrijal, basta entrar em contato com o médico veterinário da sua unidade de negócios e solicitar uma visita técnica. Lembrando que este serviço é exclusivo para associados e clientes que adquirem as Rações Cotrijal.