Interna

28/10/2025 - sexta-feira - 11:26 AM

Milho: cultura estratégica

Os bons resultados da última safra e a importância da cultura para o sistema de produção estimulam os produtores gaúchos a aumentarem a área de milho para a safra 2025/26
Foto de lavoura de trigo com plantas pequenas sob céu nublado.

O milho segue como uma cultura estratégica para a agricultura gaúcha. Além da importância econômica para o período do verão, destaca-se tecnicamente como ferramenta essencial na rotação com a soja, proporcionando ganhos de produtividade, melhoria da qualidade do solo e redução da pressão de pragas, doenças e plantas invasoras.

Depois de enfrentar redução na área nos últimos anos, impulsionada por fatores como o preço mais atrativo da soja e os impactos do clima, a cultura volta a ganhar espaço na safra 2025/26. Na região de atuação da Cotrijal, o crescimento é estimado entre 10 a 15%, totalizando 9% de toda área plantada. O percentual ainda é baixo diante da importância da cultura para a viabilidade do sistema de plantio direto, mas já anima a equipe técnica da cooperativa.

“O ideal, em um sistema de plantio direto bem conduzido, é que o milho ocupe pelo menos um terço das lavouras e que retorne ao talhão a cada três ou quatro anos”, afirma o gerente de Produção Vegetal da Cotrijal, Alexandre Doneda. “Essa prática garante maior equilíbrio do sistema produtivo e a sua sustentabilidade a longo prazo.”

Na safra 2021/22, foi registrado o maior percentual de área de milho na região da Cotrijal nos últimos dez anos: 11,3% do total da área cultivada com grãos no verão. Desde então, o índice vem diminuindo, chegando a 6,4% na safra 2024/25.

Resultados animadores

Apesar da redução na área, os produtores assistidos pela Cotrijal alcançaram maior produtividade nesses últimos dez anos na comparação com as médias gaúcha e brasileira.

Na última safra, a média da Cotrijal ficou em 181,5 sacas por hectare (sc/ha). A média do Rio Grande do Sul foi de 125,6 sc/ha. E a nacional, na safra de verão, alcançou apenas 102 sc/ha.

O recorde histórico foi alcançado na safra 2018/19, quando a média ficou em 204,2 sc/ha na região de atuação da cooperativa. “Em anos de clima favorável, muitos produtores, que adotam as técnicas adequadas, superam esse índice”, informa Doneda.

“O milho é estratégico para a viabilidade do plantio direto, pois combina produção de palha, melhoria do solo, quebra de ciclos biológicos e retorno econômico.”

Alexandre Doneda, gerente de Produção Vegetal da Cotrijal

Planejamento que dá certo

É viável plantar milho? A resposta de Elton Rambo a essa pergunta é rápida: sim. Ele vê a cultura como essencial para o sistema de produção. Desde o início dos anos 1980, ela sempre ocupa cerca de um terço da área da propriedade.

Elton, Altemir e Almir Rambo: lavoura de bom resultado é aquela em que se olha o sistema de produção como um todo | Foto: Bruna Scheifler | Divulgação Cotrijal

De lá para cá, recorda Elton, apenas em uma safra não teve lucro. “Os riscos com o milho são maiores do que com a soja, mas ele dá mais dinheiro do que a soja se for adequadamente conduzido dentro de um sistema de produção bem planejado”, afirma o produtor.

“Uma lavoura com potencial de 180 a 200 sacas de milho por hectare, descontado o custo, pode entregar o equivalente a 35 a 40 sacas de soja por hectare”, complementa Alexandre Nowicki, coordenador do Departamento Técnico (Detec) da Cotrijal.

O diferencial para alcançar maior produtividade é inserir o milho em um planejamento anual que prioriza manter o solo coberto durante todo o ano e seguir os cuidados necessários desde a implantação da cultura até o momento da colheita.

Na Agropecuária Rambo, que está localizada na Costa do Colorado, no interior de Não-Me-Toque/RS, o solo fica coberto o ano todo. “Procuramos colher uma cultura e já implantar outra, para manter o solo coberto nos 365 dias do ano. Só não conseguimos quando o clima impede o trabalho”, explica Altemir, filho de Elton.

Ao todo, são 70 hectares de área cultivada. No verão, de 20% a 30% recebe milho. O restante, soja. Já no inverno, 25% da área é cultivada com trigo e o restante recebe culturas de cobertura, como nabo, milheto e aveias branca e preta.

Na área onde vai o milho da safra 2025/26, eles cultivaram aveia para cobertura. Implantada em 6 de abril, essa aveia foi dessecada e derrubada com o auxílio de equipamento adaptado com pneus, proporcionando excelente palhada e facilitando a semeadura do milho.

Benefícios para as outras culturas

Um dos impactos positivos do milho no sistema de produção é o benefício para a soja. “A soja produz mais nas áreas onde antes havia milho. Vemos isso acontecendo anualmente desde que introduzimos a cultura na propriedade”, aponta Altemir.


Importância do milho no sistema de plantio direto

Alta produção de palha

  • O milho é uma das culturas que mais gera massa vegetal (palhada), fundamental para a cobertura do solo;
  • Essa cobertura protege contra erosão, reduz evaporação e conserva a umidade.

Rotação de culturas

  • Alternar o milho com a soja e outras culturas quebra ciclos de doenças (população de fungos e bactérias nocivas);
  • Contribui para a redução da ocorrência de pragas, como o tamanduá-da-soja, que praticamente desaparece quando há pelo menos um ciclo de milho no sistema produtivo;
  • Como os herbicidas utilizados no milho são diferentes daqueles aplicados na soja, o risco de resistência diminui;
  • Melhora a estrutura do solo e reduz o risco de degradação.

Raiz profunda e vigorosa

  • As raízes do milho descompactam camadas do solo, favorecendo infiltração de água e aproveitamento de nutrientes em profundidade.

Sustentabilidade do sistema

  • A palhada do milho favorece o acúmulo de matéria orgânica. A soja e os cereais de inverno não conseguem suprir a necessidade de palhada do solo no ano, que é de 12 toneladas/hectare. No entanto, o milho é capaz de atender a essa demanda;
  • Melhora a fertilidade do solo e aumenta o sequestro de carbono.

Rentabilidade + conservação

  • Além dos ganhos produtivos, o milho traz retorno econômico (grão, silagem, mercado interno e exportação);
  • Fortalece o equilíbrio entre produtividade e conservação do solo.

De olho no mercado

Segundo a consultora de Gerenciamento de Riscos da StoneX Brasil, Silvia Bampi, o mercado global de milho sempre foi mais ajustado em relação ao da soja, ou seja, a produção mundial é próxima do consumo, o que traz mais volatilidade.

Nos últimos anos, o Brasil se beneficiou de fatores externos, como a guerra Rússia-Ucrânia, que afetou os fluxos globais, e conseguiu aumentar a exportação. Além disso, o crescimento do consumo interno, impulsionado por proteínas e etanol, gerou boas oportunidades para os produtores.

Para a nova safra, o cenário é de crescimento da oferta mundial, o que pode desacelerar as exportações brasileiras. Estados Unidos, caso o clima se mantenha favorável, deve colher safra recorde, próximo a 400 milhões de toneladas, segundo a StoneX. No Brasil, a expectativa também é de alta produção: em torno de 137 milhões de toneladas.

O gerente Comercial Grãos da Cotrijal, Luis Cláudio Gomes, pontua que a taxa de câmbio mais baixa – entre R$ 5,50 e R$ 5,60, contra os R$ 6,30 praticados anteriormente – também reduz a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional.

Com esse quadro, a expectativa é de que o mercado dependa mais do consumo interno no país para sustentar a demanda. No entanto, Luis Cláudio pondera que fatores imprevisíveis, como questões geopolíticas e eventuais quebras de safra, ainda podem alterar esse cenário.

Silvia Bampi recomenda ao produtor acompanhar as tendências do mercado e os fatores que influenciam as cotações para traçar a melhor estratégia para a comercialização. “Ainda temos um longo tempo até iniciar a colheita da próxima safra no Rio Grande do Sul e o cenário pode ser influenciado por diversos fatores, inclusive as tarifas que o presidente norte-americano pretende impor ao Brasil, e por isso é necessário estar atento”, alerta.

“Estamos, enquanto cooperativa, sempre em busca de boas oportunidades para repassar ao produtor. O milho é uma cultura fundamental dentro do sistema de produção e o produtor precisa olhar para ela não de forma isolada, mas como uma ferramenta para buscar rentabilidade para a propriedade como um todo”, ressalta Luis Cláudio.


Balanço de oferta e demanda de Milho

Produção

A safra 23/24 foi marcada por redução relevante na produção, mas a expectativa para 24/25 é de recuperação, voltando ao patamar recorde.

Demanda doméstica

Vem crescendo, devendo chegar a 90 milhões de toneladas, puxada principalmente pelo setor de rações e pela demanda por etanol de milho, que tem crescido ano a ano.

Exportações

O auge das exportações foi em 22/23, com desaceleração nos ciclos posteriores. Para 24/25, a expectativa é de 42 milhões de toneladas exportadas. A redução se relaciona à forte concorrência dos EUA e ao câmbio menos favorável.

Estoques finais

Devem crescer para 23,65 milhões de toneladas em 24/25, resultado da combinação de forte produção e exportações mais moderadas, aumentando a sobra de milho no mercado interno.


Como mitigar riscos

Os híbridos oferecidos pelo mercado têm alto potencial de produção, mas também exigem maior cuidado técnico. Além da atenção ao mercado para definir o melhor momento da comercialização, o adequado planejamento da lavoura é apontado como diferencial para busca de melhores resultados.

A Cotrijal mantém vitrines de híbridos em diferentes regiões para testar os manejos mais adequados e repassar essas informações ao produtor para que ele seja o mais assertivo possível nas suas escolhas.

Uma das orientações de Alexandre Nowicki, coordenador do Departamento Técnico (Detec) da Cotrijal, é a diversificação dos híbridos, junto com o escalonamento da semeadura com diferentes ciclos (precoce, superprecoce, médio). “Assim, é possível diminuir os riscos em caso de dificuldades relacionadas ao clima”, recomenda.

Em relação às pragas e doenças, a principal preocupação é a cigarrinha. Mas existem híbridos tolerantes e o manejo integrado da praga, com aplicação de inseticida quando necessário, pode diminuir os danos.

Além disso, o produtor deve observar as condições de clima, solo e fertilidade para posicionar adequadamente o híbrido. “São vários fatores que precisam ser trabalhados de forma conjunta com a equipe técnica para que tenhamos uma boa safra”, alerta Nowicki.

Medidas importantes:

  • Diversificar híbridos e escalonar semeadura;
  • Monitorar pragas, principalmente cigarrinha, fazendo o manejo integrado;
  • Ter especial atenção à umidade e temperatura do solo na semeadura;
  • Investir em adubação, seguindo a recomendação técnica;
  • Definir adequadamente população e espaçamento de plantas;
  • Manejar da forma recomendada as invasoras.

Compartilhe essa publicação!

Nas redes

Ou pelo link

https://cotrijal.com.br/blog...

Mande um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outras publicações

Coleiras eletrônicas promovem transformação no monitoramento de rebanhos de leite

Mais de 1,1 mil animais são acompanhados por coleiras disponibilizadas pela Cotrijal em parceria com a Cowmed

Movimento em evidência: o mundo reconhece a força do cooperativismo

Confira a entrevista especial com a superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tania Zanella

Trabalho e confiança para uma safra de trigo promissora

Confira as recomendações para garantir uma colheita ainda mais eficiente